domingo, 28 de junho de 2009

luiscarmelo.net

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Em breve, "luiscarmelo.net" irá agregar todo o arquivo do Miniscente sem deixar de repor, em coluna própria, a sua continuação. Mais sucinta, claro. Os tempos estão twitterianos. Nessa página aparecerão elementos biobibliográficos e ainda ligações a todas as actividades a que estou ligado (crónicas, ensaio, edição da PNETliteratura, @Learning próprio e institucional, comércio de design, etc...).

sábado, 2 de maio de 2009

4000

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Este post é o número 4000, imagine-se. And I´m still here. Mas também vos digo uma coisa: esta é uma imagem (parcial) da segunda loja de design que abro em apenas um ano. Com tudo o resto em que estou metido (...), como posso eu ter tempo para o Miniscente? But I´m still here!

sábado, 11 de abril de 2009

Qual Freeport!

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Eu acho normalíssimo que a Fernanda Câncio diga o que diz. O que são os limites da deontologia e o que são as declarações de interesse, quando o que está em causa é o que há de mais fundamental na vida? Não pode aceitar-se o que alguém diz na condição, ao mesmo tempo de jornalista, de inquiridora de uma verdade e também de apaixonada? Ou ter-se-á sempre que segmentar e adequar cada uma das funções a um discurso, a um modo de dizer e a uma declaração de interesse específica? Curiosamente, quando a questão saltou das modalidades comunicacionais mais imediatas e actuais (blogues ou twitter) para os jornais, logo Fernanda Câncio foi tratada por “namorada do primeiro-ministro” e não pelo seu nome. Sintomático. Como se ser “namorada” esvaziasse o que se é e como se a evidência de uma ligação correspondesse tão-só a uma banalidade, ou a algo à parte da pessoa que se é (da Fernanda que é Câncio). Todos adoramos os mitos do amor eterno – os túmulos de Alcobaça, Sá Carneiro e Snu ou até, para os mais distraídos, a francesinha de Salazar –, mas quando o frisson não tem distância de mito, embora altere o sentido de fundo, logo a ‘coisa’ desperta terríveis abalroamentos. Como se uma letargia a saber a ciúme obrigasse a ré a separar a máscara de colunista da de jornalista. Como se a boca não fosse a mesma que diz. O que estará por dizer. Com a sua urgência própria. Não dou uma rosa a Fernanda Câncio, mas dou-lhe uma ameixoeria em flor. Chega?

segunda-feira, 23 de março de 2009

A era da 'Laranja Mecânica'

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Nas últimas décadas, os pontos de referência deixaram de ser fixos para se transformarem em fios-de-prumo ao vento. Os valores bem inscritos num horizonte de vida - foi essa ainda a minha educação em casa, na rua e nas escolas - deram repentinamente origem a uma pintura gestual ao jeito de Pollock. Um aceno radical de traços e cores que esvaziou comportamentos, representações e modos estáveis de comunicar. O tempo real, a performance pura, o individualismo, a simplificação digital e o narcisismo entraram em cena como se não houvesse, hoje em dia, lugar para o passado ou para o futuro. Apenas presente. Um presente com assomos de eternidade, feito para corpos eternamente jovens e para muitas outras crenças simuladas e ilusórias do género.
Não me queixo, confesso. Prefiro uma sociedade livre, aberta e desideologizada a uma sociedade de dogmas onde a democracia não passe de um armário institucional fechado a sete chaves. Contudo, há extremos que começam a ameaçar, no nosso tempo, a liberdade. Até porque o que define a liberdade é a consciência dos limites que ela mesmo impõe. Um dos sinais dessa ameaça é a banalização: uma espécie de 'vale tudo' independentemente das consequências que possa gerar. Com efeito, quando se descobre que há no Magalhães uma sequência crassa de erros (mais ao nível do significado do que do domínio apenas sintáctico ou ortográfico), o impacto público é o de uma gargalhada - que vale pela exclamação "Ah... este país!" - e, logo a seguir, o do esquecimento. O presente em que vivemos, ininterruptamente construído por imagens que nascem e morrem (como pixels), dita que assim seja.
A carruagem passa e tudo se banaliza. Sem excepção. Na esfera política (veja-se o modo frugal como as derrapagens financeiras são relativadas por altos responsáveis), na esfera judicial (veja-se como o 'tempo' da justiça não passa de simples objecto de análise), na esfera mediática (veja-se como o recente concurso Zon-Tele5 decorreu), na esfera educativa (atente-se a que é que realmente correspondem os conteúdos das "Novas Oportunidades") ou na esfera financeira (veja-se o modo como são tratados aqueles que andaram a brincar, ao longo dos anos, com o dinheiro dos outros).
Na Laranja Mecânica, Kubrick foi um profeta deste nosso tempo. No filme de 1971, o tédio e a indiferença a qualquer tipo de ética levava a matar como se se bebesse um copo de água. A alegoria está hoje presente em todas as séries de televisão, mas também - e isso é que é grave - no âmago da nossa própria vida real. Outro dia, fui acordado a meio da noite por um estranho ruído e consegui ainda chegar a tempo de espreitar pela janela o que se passava na rua. Um grupo de estudantes universitários dava pontapés nos vidros da minha loja. Por prazer incontrolado. Estilo Laranja Mecânica. Por tédio, impotência ou espírito de performance pura. Sem lugar para o sentido. Por amor ao tempo real do acontecimento. Qual é o problema, afinal, de... dar chutos numa montra de vidro temperado?

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Inspirações electivas

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frases que parecem fáceis/ são como pedras a respirar/amadas por águas ágeis/alumiam o que as quer matar.
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It could be worth

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Da exaltação

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Há períodos que, pela sua natureza - e este parece ser um deles -, convidam avidamente a que não se tenha medo nem da tragédia, nem sobretudo da comédia. Uma e outra podem afinal ser íntimas irmãs, dando-nos a sensação de que estamos a atravessar uma ponte vertiginosa. Como se estivéssemos a sair de uma fase para entrar noutra irremediavelmente diferente. E sem quaisquer precedentes. Passagem árdua e cheia de perdas, mas também anunciadora de redenção.
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Ao fim e ao cabo, a liturgia da nossa cultura sempre passou por estes - às vezes ilusórios - estados de choque. E o importante, convenhamos, nem é tanto o choque. Nem o que se perdeu ou virá a ganhar. O importante é antes aquilo que realmente nos consegue exaltar no coração do presente. No nosso dia-a-dia. No momento em que nos encostamos ao sofá da sala, após mais um fio ininterrupto de horas a trabalhar, a porfiar ou a auscultar os mil e um sinais de "crise" que nos batem à porta, sendo o maior deles a sua própria repetição. Na televisão, na rádio ou na boca doméstica dos nossos interlocutores mais próximos.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Personagens amigos da crise

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O tempo é fértil para desenhos animados. Os personagens rocambolescos de hoje já nada têm que ver com o 'esconde esconde' do Apito Dourado. A gargalhada está agora do lado dos senadores da moral que tentam gritar mais alto do que a tempestade. É por isso que ninguém os ouve. Mas todos os vêem, claro.
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Manuel Alegre e Santos Silva fazem verso e reverso desta sátira, um dizendo-se pigmeu, o outro senador da moral intangível. O pior é quando o mais imprevisível degelo derrete os figurões e deixa à mostra a nudez do príncipe. Cinema mudo no seu melhor.

A queda de Ferreira Leite

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Não há nada pior do que um mito. Primeiro existe como sonho capaz de domar a vida, depois, tal como Ícaro, pode subitamente ver as asas a derreter. Manuela Ferreira Leite foi durante anos vista como providencial. Antes e depois da sua passagem fugaz pelo governo de Durão. Esquecendo outras viagens e outros tempos (na educação, por exemplo). Mas manteve sempre a imagem de uma ‘dama de ferro’ à portuguesa, capaz de ordem, rigor, frescura política e mobilização. Numa palavra: capaz de enfrentar o abismo com grandeza. Sondagens de lado, o que sobra hoje de tudo isso? O mar como que recua depois da maré alta. Espuma.